Aplicado o filtro por Data: Outubro 2020
*23h44m, de uma noite qualquer*
Dói-me calada,
A tua ausência.
Como num daqueles dias, em que esperar,
Torna-se a única salvação dos covardes.
Teus passos teimam em morrer,
Vagarosamente,
No tormento da noite,
Dissolvidos entre as minhas palavras desconexas.
A expectativa do amanhã,
Atira-te longe,
Para além da esperança,
Natimorta.
Teus olhos de azul cobalto,
Correm no sentido inverso do meu peito.
Tantos sentidos,
Deixados para trás.
Boa noite Amor.
Quem sabe....amanhã...!
Angela Lazzari
(Aos oito dias do mês de Novembro de 2016).
*Contrariando o Tempo*
Visceral amor tatuado em tua retina,
Natureza prodigiosa, sôfrega, distanciada.
Tempo tormentoso.
Sentimento arrebatado em asas de fogo.
Brasa que abrasa no encontro do mais puro êxtase.
E a tua ausência teima em passear pela minha rua,
Nas alamedas deste amor ensandecido.
Profundo.
O inegável do inegável.
Teus olhos que encaram os meus.
Tua pele encarnada na minha pele pronunciada.
E a tua boca...
A tua boca que sela a minha numa única respiração.
Teu amor que esbarra no meu,
A cada esquina.
A cada curva do meu corpo.
Perco a trilha,
Na chuva incessante que da tua boca escorre,
Em águas tão profundas que me lava a alma inteira...
Inteira...!
É a tua mão que me conduz ao horizonte,
Desmascarando o que já não mais se esconde.
O que o tempo não mais atreve separar.
Ainda, assim, sempre será.
Fatal...!
Inequívoco...!
Ave Maria em prece gesticulada,
Que não mais redime este pecado Santo,
Do teu amor, que vive por sobre o meu amor.
E o teu mundo transborda no meu.
Completa.
Vicia meu desejo.
E conduz...
Conduz o céu da tua boca,
Ao meu céu transbordante que te fala em silêncio.
O tempo contraria a razão.
A razão, na loucura, te rasga em meu ventre adorado.
Eu?
Eu perco a noção.
E tu?
Tu te extasias.
Voraz contemplação...!
Angela Lazzari
(Aos dezessete dias do mês de Novembro de 2016).
*Rastros*
Não te direi absurdamente nada,
Dos pedaços que me faltam,
Quando avança a madrugada.
Sei que me traio em todos os instantes,
Quando golpes da felicidade que prometes,
Rasga o peito, dilacerando a saudade que me corrói.
Teu hálito fresco,
Imposto à minha pele,
Destempera o tempo,
Do beijo prometido, que tão pouco sabes.
Tua fala doce me rende aos lençóis,
Na devassidão do teu pouso, em minha mente,
Que tempestuosamente deságua em minha retina,
Submetendo-me ao teu apelo,
Morrendo as palavras, aos poucos, nesse silêncio abissal.
És como a flor viva,
Que adubas, no canteiro da minha alma,
Com palavras ditosas e pinceladas de puro torpor.
São quimeras de fogo ardente,
Pequenos silêncios que regressam intempestivamente,
Ao menor sinal da tua presença dançante.
São rastros.
Que num céu azul cobalto,
E adornado de estrelas que tecem a nossa timidez,
Transmutam a dor e a distância,
Em fachos de imensa luz.
Em raios de pegadas doces.
Na vontade de ter um pouquinho mais de ti.
Só mais uma gota que me sedente.
Com os teus dedos, selando os meus lábios.
Na espera, apenas, de um beijo.
São rastros.
Os teus.
Angela Lazzari
(Aos vinte e três dias do mês de Novembro de 2016).
Viagem Astral
Em serena vigília respirei fundo,
Coração afoito aumentou o passo,
Trovejou no meu ouvido o sino,
E fui lançado ao perispaço,
Escoando do leito em fuga,
Desatei com a mão o cordão de prata,
Flutuando caminhei sem pressa,
Ao desconhecido que se revelava.
Silêncio meigo e aconchegante,
Um céu sem sol se iluminava,
Palavras que não eram ditas,
De suas mentes que emanavam,
No olhar revi um desconhecido,
Seres estranhos também passavam,
Na cidade andei meio sem rumo,
E vendedores anunciavam,
Sabia que não era o meu mundo,
Voltei pelo caminho apressado,
Uma jovem se aproximou ofegante,
Meu tempo havia acabado,
Crianças corriam brincando,
Quase um cortejo a acompanhar,
Imagens que foram apagando,
Suavemente senti o despertar,
E voltei.
CIÚMES
Não reconheço em mim essa angústia,
Projeto em tudo minha insatisfação,
Procuro motivos que justifiquem,
Amarga, incoerente tribulação.
Sentimento que não se corrige com o tempo,
Mar calmo de tsunamis me conduz,
Calmaria de emoções que traz o vento,
Escuridão no peito, cheia de luz.
Relação saudável, como tu és?
E amar requer toda devoção,
Eu te possuo, mas não tenho em fé,
Como quebrar essa contradição.
Sim, sabe que me envergonho,
Por não saber amar sem dor,
Rasgando a máscara do ego me ponho,
Caio em prantos doente amor,
Exausto, disfarço, já que renasci,
Entrega, volúpia, com paixão eu amo,
Deixo a onda de prazer me levar,
E espero a próxima angústia chegar.
TESTOSTERONA
Não paro de pensar nessa menina,
Não consigo mais ver a luz do sol,
Chega à noite, tô sem melatonina,
Pensar que te perdi, só faz subir meu cortisol,
Ando por aí de mau humor,
Procurando um pouco de serotonina,
Eu sei que nosso lance já acabou,
Tenho que aumentar minha dopamina,
O zinco que eu guardava já zerou,
Tô tentando sair logo desse tédio,
Mas antes de tomar qualquer ação,
Preciso de selênio e magnésio,
Como o cálcio eu procuro meu destino,
Mesmo sem saber o que virá depois,
Dói meu coração e até o intestino,
Hoje vou tomar D3 com a K2,
Junto forças pra seguir minha rotina,
Querendo sair logo dessa zona,
Se eu te vejo sobe minha adrenalina,
Sobe tudo, sobe a testosterona.
O meu e outros mundos
MEIO A MEIA
Entre a meia noite e às duas e meia,
Uma mulher de meia idade, caminhava no meio da rua,
Quando viu na calçada, próximo ao meio fio,
Uma meia largada, toda suja,
A meia estava também meio rasgada,
Ela estranhou ver aquele meio par,
E sem esperar, o outro par da meia...
Ela procurou meio intrigada,
Depois de meia hora procurando,
Olhou meio de esgueio ao lado,
E encontrou bem no meio da rua,
O outro par da meia, jogado,
Foi embora meio desconfiada,
E volta e meia se pegava,
Tentando arranjar um meio,
De descobrir em meio aquilo tudo,
De quem era a meia abandonada.
Sopro de Hemoção
Lembrei o quão éramos amigos,
Andei sempre ao seu lado,
Senti suas emoções,
Devoção, gratidão.
Mesmo naquele incidente
Quando você se feriu,
Senti sua dor, nossa dor...
Calor, febril.
E todos esses momentos,
O que nos aconteceu?
Na boca sabor amargo,
Não sabia que sofria
Não sabia da sua dor... nossa dor.
E agora não posso ajudar,
Queria te levantar, voltar a ti,
Continuo me esvaindo
E vejo você morrer,
E morro com você,
Do seu pulso, à sua mão...
E não mais terei seu coração,
Mas continuo aqui,
Caído, ao seu lado,
Chão frio... para sempre!
A Procura de mim
Procuro a mim mesma
E tudo o que a mim pertence,
Pois percebo que até hoje
Não fazia distinção
Entre o que era meu ou dos outros.
E nesse viver de muitos
Absorvi tanta lama,
Água suja, aberração.
Nada disso me pertence
Quero apenas ser minha versão.
Procuro a mim mesma
E tudo que em mim se esconde
Sem interferências ou influências,
Sem heranças nem lembranças.
Preciso percorrer
O labirinto do meu ser,
É lá que vou encontrar
Na intimidade da minha alma
Meu pensar, minha palavra.
Meu genuíno viver.
Zezinha Lins
Poema publicado no livro E POR FALAR EM MULHER... (2019)