Aplicado o filtro por Data: Fevereiro 2022
O dicionário é meu
O dicionário é meu!
Onomatopeia. Sinapse. Idiossincrasia. Biblioteca. Metáfora.
Palavras que nada tem em comum. São apenas algumas cuja fonética fazem música aos meus ouvidos. “Idiossincrasias” de quem ama letras e suas combinações.
Certa feita meu pai, apareceu com um dicionário. Falo UM DICIONÁRIO. Tempos em que redes e sites de pesquisa, eram sonhos distantes, quiçá de alguns visionários.
Eu deveria estar entrando na puberdade à época. Creio que ele tenha se esforçado e muito para adquirir a tal “peça”. Além de cara, em nossa cidade, havia apenas uma livraria.
Ele, o pai, folheava o dicionário como quem cuidasse de uma obra de arte. As mãos acostumadas à faina rústica, naqueles momentos tornavam-se cuidadosas. As folhas do livro eram muito finas, tipo um papel de seda, para que o livro, mesmo grande, dessa conta de abrigar tantas palavras e seus significados. Por vezes ele abria aleatoriamente e lia algumas palavras e seus sinônimos. Fora do vocabulário do nosso cotidiano, soavam por vezes muito engraçadas.
O pai insistia que deveria ler algumas palavras diariamente. Eu já andava me enamorando de livros, letras, vocábulos!
As lembranças pipocam na memória repentinamente como materializando o dicionário à minha frente. A capa era linda. A memória me diz ser colorida. Por mais que procure uma imagem em bancos de imagem na Internet, não reconheço nenhum igual ao exemplar do pai. Memória afetiva deve querer me dizer ser único e não reproduzível.
Meus dedos sentem a carícia da textura como se o tempo não tivesse passado e todos os verbos se conjugam apenas no presente.
A lembrança da seda do papel me conduz à caminhos carinhosos na alma e a voz do meu pai ecoa saudade no meu coração. Partes do caminho atapetados e para os quais nem sempre temos sensibilidade de reconhecer e agradecer.
Fonética, letras e suas combinações!
Gratidão pelo “dom da escrita” e por todos os tapetes estendidos para o meu caminhar.
Maria Luiza Kuhn 29/03/2022
MACROCOSMO
Vejo-me contrito ao buscar um tema...
A inspiração vagueia livre em meu éter
E minha metafísica pessoal fica a mister
Dum cósmico sombrio, agonia extrema.
Num espaço sidéreo palavras são astros
Onde corpos celestes navegam no vácuo
E a imaginação é um precipício inócuo,
É difícil reter termos semânticos castos.
Às vezes sinto-me perdido nessa abóbada
Que faz do meu âmago uma sutil pousada
Onde vivem eflúvios que vêm de alto mar...
Percebo meu íntimo como intensa galáxia
Que produz os remates em grande ortodoxia
Numa seara sensitiva nada donzela para criar!
DE Ivan de Oliveira Melo
NATAÇÃO CÓSMICA
Minhas asas me fazem flutuar distante
E a mente depura o pensamento sem cansaço,
Do éter retiro o tempero com que traço
Redondilhas tingidas da sensibilidade dominante.
Há no espaço várzeas insondáveis do infinito
Que me apalpam a imaginação febril e contrita,
Diante de cada passo sorrio com a vista
Mergulhado num sonho do êxtase que conquisto.
Tudo é sensorial neste campo sutil e magnético,
O voo me envolve num estágio onde o teor estético
É moldura que retrata a criatividade artística...
No íntimo a fotografia é arrimo da contemplação
Que traz o maravilhoso perante o excitado coração
Já devorado pela beleza indelével da ótica metafísica!
DE Ivan de Oliveira Melo
BAZAR DO DESTINO
Há sentidos meio sem sentidos
Nalgumas coisas que costumo ler...
Há muitos gostos sem gosto
Que me causam sérios desgostos
E que nem mesmo eu,
Apesar de ser eu,
Consigo meramente entender...
Há palavras apagadas, rasgadas,
Em muitos livros que são obscuras,
São escritas para driblar a censura
E suas semânticas ficam ocultas...
Há gestos indecifráveis, hieróglifos
Faciais que estão longe de ser
Compreendidos, são expressões
Subnutridas de significados, vazias,
E que se ligam mais à hipocrisia...
Há favores impensados, temperados
Sob a égide da ambição e do desejo
Que deixam rastros, deixam de ser
Segredos e se tornam fofocas indomáveis...
Há emoções abstratas em meio
A falsas sensações do lírico
Que extrapolam as conveniências,
Alimentam a verve das indecências
Para depois serem abandonadas no lixo...
Há momentos que não são momentos,
São estâncias de prazeres eventuais,
Domesticados por volúpias que não
São volúpias... são estereótipos da
Luxúria... Identidade apócrifa do sexo!
Há olhares que não são olhares,
São ótica da vagabundagem, do ilícito...
Há amores que não são amores,
São enciclopédias do interesse
E dão vazão ao escárnio e à podridão...
Mas há lances límpidos, cristalinos
Em suas sagas... São estes que, embora
Raquíticos em meio ao povo, à plebe,
Serão eles o apocalipse da vergonha,
A salvação da indigência, do infortúnio,
Que transformarão a face ainda impúbere,
Imatura que sobrevive à espera da esperança!
DE Ivan de Oliveira Melo
Estudo
Estudo
Rasgo o verbo nas
palavras ocultas
do pensamento.
Descreve toda cena
diante do olhar alheio,
aos movimentos retilíneos uniformes.
O letramento é o sinônimo que existe
entre a prata e o ouro.
E ficará reservado no
espaço destinado as emoções.
A escrita é sequência do DNA
primitivo na primícia humana.
O verbo o sujeito a escolha
perfeita do predicativo.
A soma é transitória, o cosseno
invade as laterais algoritmia das palavras
jamais dita.
O caderno é quadriculado, pautado,
brochura ou espiral.
O quadro negro não tão negro.
Um jaleco branco, um fichário, uma caneta
o lápis exposto à mesa.
O verbo é o sinônimo da vida.
Vida em abundância.
MIF- 11/03/22
ALMA DE POETA
A identidade do poeta é nômade...
O poeta habita cada coração que conquista
E seu nome passa a ser acervo do mundo...
Nos textos que escreve registra sua personalidade
Gravada nas entrelinhas da mensagem intrínseca
Que transmite às consciências que o leem...
O caráter de suas palavras passa de geração em geração
E mesmo que seu corpo físico já não mais exista,
Sua memória ganha ares de quem é artista...
Aí que reside a imortalidade da sua criação!
Peculiaridade do indivíduo que faz da arte cultura
E que arraiga admiração pelo intocável talento
Com que manuseia opiniões e transfere conhecimento...
Alma que se sensibiliza diante dos flagelos do universo
E que, não raro, ensina o amor através de seus versos!
De Ivan de Oliveira Melo