Aplicado o filtro por Data: Janeiro 2022
PSIQUISMO
Um homem vê sombras em derredor de si,
Mas ele está só, não há ninguém ao seu lado...
Será que este homem está alucinado?
Pode ser reflexo de sua imaginação, e daí?
A inconsciência é um álbum unilateral,
É a armazenagem dos sonhos reprimidos...
Utopia não necessita de antídotos,
Ou será a mente doentia que está mal?
Sua plataforma psíquica parece bipolar
E a inteligência não soa como um radar,
Por isso o onírico se rasga por ser plástico...
As sombras são suas próprias pegadas
Que ele deixa na areia marcadas
Para os pensamentos jorrarem intactos!
DE Ivan de Oliveira Melo
CONSPIRAÇÃO
Vivo num tempo
Que equaciona meus passos
E me digere quantitativamente
Os ideais que guardo
Em absoluto silêncio.
Sobrevivo numa época
Que me fraciona os ensejos
E me engole taxativamente
Os pensamentos que arquiteto
Nos umbrais da consciência.
Respiro num período
Que se alimenta do meu ego
E me cospe absurdamente
Os objetivos que formulo
Na plataforma da memória.
Existo num espaço
Que me subtrai a inteligência
E me soterra alucinadamente
A produção que edifico
Nos arquétipos da mente.
Nutro-me numa alfândega
Que me rouba da inconsciência
Os frutos que diuturnamente
Evolo nas asas da imaginação
Para que na existência não seja objeto!
DE Ivan de Oliveira Melo
POR QUE ESCREVO?
Escrever é a essência de minha alma.
Quem escreve transcreve sentimentos
E delata o funesto; idem, o maravilhoso.
Escrevo para fomentar as informações
Lúdicas e bélicas da vida e do universo.
Escrevo para dar ciência à inspiração
Que me assalta o espírito e me torna
Coadjuvante dos noticiários da existência.
O poeta é o jornalista maior de uma mídia
Que usa a linguagem para manifestar o ego.
A poesia instrumenta do lírico ao grotesco
Toda uma parafernália de sensações e álibis
Que o poeta transporta em sua caixa emotiva.
Escrevo porque a escrita me alimenta o senso,
É a vitamina que me traz a cobiça de ser feliz!
DE Ivan de Oliveira Melo
REINO INFANTIL
Fui criança,
Sou criança,
Criança serei,
Eternamente!
Lembro-me do pião,
Como rodava meu coração,
De alegria!
Recordo-me das pipas
Brincando nas nuvens,
Lá em riba!
Oh! Como o tempo
Levou embora meus folguedos
E tudo agora é outrora!
Revivo o pular de cordas,
O esconde-esconde,
O esconde a peia...
Hoje as horas parecem mortas,
Mas na memória ficou a horta
Onde plantávamos felicidade!
Brincar de médico...
Muitas vezes fui o doutor;
Noutras, o paciente!
Eu, aquele menino carente
E um coração repleto de amor!
Solto pelas campinas
Sem preocupar-me com rotinas
Que fazem da garotada de hoje
Indivíduos indiferentes,
Presos diante duma tela
Levando uma vida virtual...
Relembro dos terrenos baldios
Onde o balão de couro corria vadio
De pé em pé
E a festa terminava
Num contentamento de olé!
Os tempos mudaram...
Inocência virou malícia,
A droga tornou-se delícia,
A violência soterrou a ingenuidade...
Porém em minha mente
A imagem está sempre viva,
Minha infância não foi consumida
Pelos desajustes do progresso
E vou levando a existência adiante,
Deixando a criança que em mim
Nunca morreu
Jogar as bolas de gude,
Dormir abraçado a Morfeu
E sonhar... sonhar...
Porque a noite decola
E tenho de levantar cedo
Para ir à escola!
DE Ivan de Oliveira Melo
AFLIÇÃO
Perdi-me numa rua sem nome
Repleta de casas pobres, buracos à beça...
Pelas calçadas, cachorros sujos enfeitavam o ambiente
E esgotos a céu aberto vitaminavam a respiração.
Tropecei numa calçada quebrada e caí...
Para meu espanto, ninguém registrou o fato
E fiz de um muro cheio de lodo, meu apoio...
Levantei-me e, atordoado, tentei desvendar onde estava...
Lugar esquisito, pessoas estranhas e mal vestidas
Eram os moradores que parecia não se darem conta de mim...
Para eles, eu era mais um transeunte desconhecido
A perambular no mutismo de mim mesmo e do destino...
Fui caminhando, caminhando... Cheguei a uma esquina vazia
E me sentei debaixo de uma velha marquise e chorei... chorei!
Como fora parar ali? Que becos da vida me trouxeram?
Um rosto inundado em lágrimas compadeceu-se de minha presença.
Não sabe onde está? Perguntou-me. Notei que sofria como eu...
Morremos e certamente prestamos contas dos nossos atos!
DE Ivan de Oliveira Melo
MUNDO CIGANO
Eis o desenrolar de um mundo encantador
Que atravessa séculos através das estradas
E deixa em seus rastros tradições vinculadas
À cultura de um povo de sabedoria e amor.
Universo em que abundância é a liberdade
Do ir e vir pelas veredas que marcam espaço
Em que a confraternização é sempre regaço
Que registra o câmbio de pura autenticidade.
Saias rodadas em colorido alegre e decente
É retrato das donzelas que dançam inocentes
Num rebolado astucioso do perfil feminino...
Colares multicores adornam belos pescoços,
Penteados que singram de magia os moços
Que enfeitiçados bebem na taça do aperitivo.
Indivíduos que sabem desvendar o destino
Pela leitura detalhada das linhas das mãos
Ou incorporando sapiência nas cartas do tarô...
Verdades absolutas não revelam desatinos
Ditadas pela alforria de jovens e de anciãos
Que espontâneos se dedicam a este labor.
Belos exemplares de uma raça que curte o sol
E se debruçam felizes sob os eclipses da lua...
Peregrinos da terra, vagueiam e se perpetuam
Indiferentes aos olhares atemporais do arrebol.
Marcha lenta... estalagens nos vales e campos,
Violões que sorriem melodias através do tempo,
Classe social desprotegida das leis e sem assento,
Mas que escreve sua história isenta de prantos!
De Ivan de Oliveira Melo
OBLÍQUOS
Já mostrou Oswald de Andrade
E o fez com toda propriedade:
Quem faz a língua é o povo,
Não vou aqui dizer de novo,
Mas apenas reforçar...
Me beija,
Me abraça,
Me fala,
Me diga,
Me dá,
Te amo...
Quer mais? Então...
Me leia sempre!
DE Ivan de Oliveira Melo
PRIMEIRA VEZ
Noite fria
Travesseiros úmidos
Corpos quentes
Pernas que tremem
Mãos que acariciam...
Gemidos: dor!
Delírios: amor!
Tez molhada
Boca orvalhada
Pelo beijo que silencia...
Sensações: húmus!
Pelos arrepiados
Sexo atordoado
Entre coxas macias...
O voo da gaivota
Membro que vai e volta
Alucinado!
Sussurros, mordidas!
Pela primeira vez na vida
Momentos frenéticos
Excitantes...
Mergulho fatal
No viço infinitesimal
Da volúpia extrema...
Sorriso que inflama
Dois corpos sobre a cama
Que navegam sobre a lama
Do orgasmo pleno!
As luzes se apagam
Os rostos se afagam
As línguas se tocam agradecidas
Por tudo o que se fez...
Está consumada
A primeira vez!
DE Ivan de Oliveira Melo
O novo herege
BRINCANDO COM OS COLETIVOS
Um exército de formigas invadiu meu acervo de ideias...
Edifiquei grandes projetos na colmeia do pensamento,
Mas uma turba de belicosos e atraentes passatempos
Levou-me a configurar uma prole de preguiçosos raciocínios
Que me tornaram escravo perante um enxame de horas perdidas
Num espaço onde uma multidão de insultos me xingavam...
Chorei diante de um bando de lágrimas desfiguradas
E me agarrei a uma antologia de esperanças ainda vivas
Que expuseram à minha face uma fauna de velhas cinzas
Para que eu as entregasse ao pelotão das reflexões desamparadas...
O tempo ingeriu-me cachos de ânimos bastante novos
E me vi seduzido por uma caravana de intensas forças
Que inspiraram a mim um glossário de lutas de aparências toscas,
Contudo vitaminadas por uma nuvem de imenso prazer
Que me fez herói de uma penca de atitudes exóticas para vencer!
DE Ivan de Oliveira Melo