
Ivan de Melo
LUBRICIDADE
O prazer é uma tradução excelsa.
Voraz apetite me domina quando escrevo,
A satisfação não fica obscura, é cristalina...
No coito com a poesia, ejaculo sensibilidade.
No cabritismo com a leitura, desperto!
Uma languidez amorfa me entorpece os sentidos...
E viajo pelo canibalismo das palavras
Em busca das reações eróticas singulares
Que fazem das minhas emoções sexo artístico.
No desejo de transcender as sensações,
Busco invariavelmente uma libidinagem contextual
Em que me desponta uma criatividade virginal,
Dosada com temática da afrodisia.
É uma aventura que me deixa em êxtase...
No envolvimento com a literatura
Engravido os gêneros de forma tóxica
E me torno pai de contos, crônicas, novelas, romances...
É uma lascívia pura sem arrependimentos e traições.
Tanto a consciência como a inconsciência
Se debatem pelo orgasmo final do texto,
Pois a excitação é o produto notável dessa sensualidade
Que nada mais é que uma excentricidade cultural.
Não existem traumas, nem sofrimento, nem dor...
Trata-se de uma sexualidade híbrida,
De uma volúpia em que a atração é a palavra,
O enredo, a composição conjugal
Do matrimônio perfeito entre o artista e a arte
Donde o que se sobressai é o tesão de produzir o belo!
DE Ivan de Oliveira Melo
ÉTICA
Instrumento abstrato da razão
Que é a moral e seus costumes,
Comportamentos não ficam imunes
À observação das normas de tradição.
Origina-se na Antiguidade grega,
Perpetua-se nos pensamentos filosóficos
De celebridades que abriram pórticos
À ejaculação que o saber humano congrega.
Imperativos categóricos de liberdade e dever
Pressupõem o equilíbrio que no haver
Distinguem a ética do que é político...
Do autocontrole entre a alma e o corpo
O que for do destino jamais estará morto,
Porque na moral não existe diagnóstico!
DE Ivan de Oliveira Melo
DEUSES
Somos discípulos dos deuses,
Somos deuses em formação
E carentes da essência divina
Que ainda nos subleva à dor...
Somos deuses em miniatura,
Ferindo-nos em vendavais,
Salpicando esperança nas ilhas,
Mas engolindo seco as injustiças...
Somos deuses de nós mesmos,
Conscientes da textura do ego
Que aprende a lapidar perfeição...
Somos deuses da grande Criação,
Coniventes com nossos desígnios,
Finitos perante o conhecimento!
DE Ivan de Oliveira Melo
MACROCOSMO
Vejo-me contrito ao buscar um tema...
A inspiração vagueia livre em meu éter
E minha metafísica pessoal fica a mister
Dum cósmico sombrio, agonia extrema.
Num espaço sidéreo palavras são astros
Onde corpos celestes navegam no vácuo
E a imaginação é um precipício inócuo,
É difícil reter termos semânticos castos.
Às vezes sinto-me perdido nessa abóbada
Que faz do meu âmago uma sutil pousada
Onde vivem eflúvios que vêm de alto mar...
Percebo meu íntimo como intensa galáxia
Que produz os remates em grande ortodoxia
Numa seara sensitiva nada donzela para criar!
DE Ivan de Oliveira Melo
NATAÇÃO CÓSMICA
Minhas asas me fazem flutuar distante
E a mente depura o pensamento sem cansaço,
Do éter retiro o tempero com que traço
Redondilhas tingidas da sensibilidade dominante.
Há no espaço várzeas insondáveis do infinito
Que me apalpam a imaginação febril e contrita,
Diante de cada passo sorrio com a vista
Mergulhado num sonho do êxtase que conquisto.
Tudo é sensorial neste campo sutil e magnético,
O voo me envolve num estágio onde o teor estético
É moldura que retrata a criatividade artística...
No íntimo a fotografia é arrimo da contemplação
Que traz o maravilhoso perante o excitado coração
Já devorado pela beleza indelével da ótica metafísica!
DE Ivan de Oliveira Melo
BAZAR DO DESTINO
Há sentidos meio sem sentidos
Nalgumas coisas que costumo ler...
Há muitos gostos sem gosto
Que me causam sérios desgostos
E que nem mesmo eu,
Apesar de ser eu,
Consigo meramente entender...
Há palavras apagadas, rasgadas,
Em muitos livros que são obscuras,
São escritas para driblar a censura
E suas semânticas ficam ocultas...
Há gestos indecifráveis, hieróglifos
Faciais que estão longe de ser
Compreendidos, são expressões
Subnutridas de significados, vazias,
E que se ligam mais à hipocrisia...
Há favores impensados, temperados
Sob a égide da ambição e do desejo
Que deixam rastros, deixam de ser
Segredos e se tornam fofocas indomáveis...
Há emoções abstratas em meio
A falsas sensações do lírico
Que extrapolam as conveniências,
Alimentam a verve das indecências
Para depois serem abandonadas no lixo...
Há momentos que não são momentos,
São estâncias de prazeres eventuais,
Domesticados por volúpias que não
São volúpias... são estereótipos da
Luxúria... Identidade apócrifa do sexo!
Há olhares que não são olhares,
São ótica da vagabundagem, do ilícito...
Há amores que não são amores,
São enciclopédias do interesse
E dão vazão ao escárnio e à podridão...
Mas há lances límpidos, cristalinos
Em suas sagas... São estes que, embora
Raquíticos em meio ao povo, à plebe,
Serão eles o apocalipse da vergonha,
A salvação da indigência, do infortúnio,
Que transformarão a face ainda impúbere,
Imatura que sobrevive à espera da esperança!
DE Ivan de Oliveira Melo
ALMA DE POETA
A identidade do poeta é nômade...
O poeta habita cada coração que conquista
E seu nome passa a ser acervo do mundo...
Nos textos que escreve registra sua personalidade
Gravada nas entrelinhas da mensagem intrínseca
Que transmite às consciências que o leem...
O caráter de suas palavras passa de geração em geração
E mesmo que seu corpo físico já não mais exista,
Sua memória ganha ares de quem é artista...
Aí que reside a imortalidade da sua criação!
Peculiaridade do indivíduo que faz da arte cultura
E que arraiga admiração pelo intocável talento
Com que manuseia opiniões e transfere conhecimento...
Alma que se sensibiliza diante dos flagelos do universo
E que, não raro, ensina o amor através de seus versos!
De Ivan de Oliveira Melo
PSIQUISMO
Um homem vê sombras em derredor de si,
Mas ele está só, não há ninguém ao seu lado...
Será que este homem está alucinado?
Pode ser reflexo de sua imaginação, e daí?
A inconsciência é um álbum unilateral,
É a armazenagem dos sonhos reprimidos...
Utopia não necessita de antídotos,
Ou será a mente doentia que está mal?
Sua plataforma psíquica parece bipolar
E a inteligência não soa como um radar,
Por isso o onírico se rasga por ser plástico...
As sombras são suas próprias pegadas
Que ele deixa na areia marcadas
Para os pensamentos jorrarem intactos!
DE Ivan de Oliveira Melo
CONSPIRAÇÃO
Vivo num tempo
Que equaciona meus passos
E me digere quantitativamente
Os ideais que guardo
Em absoluto silêncio.
Sobrevivo numa época
Que me fraciona os ensejos
E me engole taxativamente
Os pensamentos que arquiteto
Nos umbrais da consciência.
Respiro num período
Que se alimenta do meu ego
E me cospe absurdamente
Os objetivos que formulo
Na plataforma da memória.
Existo num espaço
Que me subtrai a inteligência
E me soterra alucinadamente
A produção que edifico
Nos arquétipos da mente.
Nutro-me numa alfândega
Que me rouba da inconsciência
Os frutos que diuturnamente
Evolo nas asas da imaginação
Para que na existência não seja objeto!
DE Ivan de Oliveira Melo
POR QUE ESCREVO?
Escrever é a essência de minha alma.
Quem escreve transcreve sentimentos
E delata o funesto; idem, o maravilhoso.
Escrevo para fomentar as informações
Lúdicas e bélicas da vida e do universo.
Escrevo para dar ciência à inspiração
Que me assalta o espírito e me torna
Coadjuvante dos noticiários da existência.
O poeta é o jornalista maior de uma mídia
Que usa a linguagem para manifestar o ego.
A poesia instrumenta do lírico ao grotesco
Toda uma parafernália de sensações e álibis
Que o poeta transporta em sua caixa emotiva.
Escrevo porque a escrita me alimenta o senso,
É a vitamina que me traz a cobiça de ser feliz!
DE Ivan de Oliveira Melo